A
estratégia de prevenção contra o HIV aprovada em julho nos Estados
Unidos – que envolve o uso do antirretroviral Truvada para homens
saudáveis que fazem sexo com homens – é capaz de impedir a infecção
mesmo se o uso do remédio não for diário.
A
conclusão é de um estudo publicado nesta quinta-feira na revista
Science Translational Medicine, que teve a participação de três centros
de pesquisa brasileiros.
A
eficácia da pílula anti-HIV havia sido comprovada em estudos
anteriores, que mostraram que seu uso poderia diminuir em até 78% o
risco de transmissão do vírus. Ainda não se sabia, porém, qual seria a
concentração exata da droga suficiente para garantir um grau
satisfatório de proteção nem a frequência de uso do medicamento que
resultaria nesse efeito.
A
conclusão foi de que, com o uso da concentração ideal do Truvada, duas
doses por semana seriam capazes de reduzir os riscos de infecção em 76%.
Quatro doses semanais garantiriam 96% de proteção. E sete doses
semanais diminuiriam o risco em 99%.
"Surpreendentemente,
descobrimos que os participantes do estudo não tiveram de aderir
perfeitamente ao regime terapêutico para colher os benefícios do
Truvada", disse o pesquisador americano Robert Grant, do Instituto
Gladstone, organização dedicada a pesquisas biomédicas, ligada à
Universidade da Califórnia.
Apesar
dos bons resultados, os pesquisadores alertam que, por enquanto,
somente o uso diário é oficialmente recomendado para garantir a
proteção. Para a médica Valdiléa Veloso dos Santos, do Instituto de
Pesquisa Clínica Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz, os resultados
confirmam que a estratégia é uma intervenção eficaz, com grande
potencial de se estabelecer como instrumento de prevenção para esse
público.
Valdiléa,
uma das autoras do artigo, acrescenta que é possível começar a testar
esquemas de uso do medicamento diferentes do diário.
"A
possibilidade de usar menos doses torna a estratégia mais barata.
Também tem implicações em relação aos efeitos colaterais, que seriam
menores. Nesse caso, quanto menos, melhor."
Para
chegar aos resultados, os pesquisadores partiram dos dados de dois
estudos anteriores – chamados iPrEx e Strand. Primeiro, eles descobriram
qual era a quantidade de medicamento que permanecia no sangue dos
participantes de acordo com o número de doses semanais da medicação.
Depois, determinaram o grau de proteção garantido em cada frequência de
uso.
A dosagem da medicação no sangue foi importante porque a adesão pode não ser corretamente relatada pelos participantes.
"Nosso
próximo passo é pegar os métodos que desenvolvemos e criar ferramentas
simples, mas poderosas, que podem medir a adesão à droga para ajudar os
médicos a monitorar o quanto o Truvada está funcionando", diz o
pesquisador Peter Anderson, da Universidade do Colorado.
Outras ações
Especialistas alertam que esse tipo de estratégia deve ser aliada a outras medidas preventivas.
"Essas
estratégias alternativas não devem ser aplicadas isoladamente, mas
virem dentro de um pacote, junto com um aconselhamento", diz o
infectologista Alexandre Naime Barbosa, da Faculdade de Medicina da
Unesp.
Quem
optar por adotá-la deve continuar usando camisinha, fazer testes de HIV
periodicamente e tratar outras doenças sexualmente transmissíveis
(DSTs), que costumam deixar o paciente mais vulnerável à infecção por
HIV.
"Se
não houver esse aconselhamento, existe um risco muito sério de
relaxamento nos métodos preventivos ou até o aumento da exposição", diz
Barbosa. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
Fonte:Blog do Cristiano Alves IG